domingo, 7 de dezembro de 2014

Despejos derrubam casas e matam sonhos. Doze perguntas de 130 famílias despejadas na Ocupação Santa Maria em Vespasiano, MG.



Despejos derrubam casas e matam sonhos.
Doze perguntas de 130 famílias despejadas na Ocupação Santa Maria em Vespasiano, MG.
Frei Gilvander Luís Moreira[1]

Com lágrimas nos olhos e vozes embargadas, representantes das 130 famílias despejadas da Ocupação Santa Maria, no dia 04 de novembro último, fizeram várias perguntas que queimam como fogo, na Audiência Pública que ocorreu na Câmara de Vereadores de Vespasiano, região metropolitana de Belo Horizonte, MG, dia 27 de novembro de 2014. Em todo o processo, nesta audiência, foi a primeira vez que as famílias tiveram a oportunidade de falar. Mas, suas casas e seus sonhos já estavam destruídos. Restaram as perguntas, abaixo, e tantas outras silenciadas:
1)    “Por que só os ricos têm seus direitos respeitados? Por que os direitos nossos, pobres e trabalhadores, são sempre pisados?”
2)   “O que o prefeito de Vespasiano, MG, Carlos Murta, fará para nós, 130 famílias jogadas na pesadíssima cruz do aluguel, nas ruas, ou na cruz da humilhação que é sobreviver de favor nas costas de parentes que, normalmente, também pagam aluguéis? Há muitas famílias que estão nas ruas ou sobrevivendo em barracas de lonas no quintal de parentes.”
3)   “Ten. Cel. Alfredo, comandante do despejo, minha filha de 2,7 anos está na casa da minha mãe com 39 graus de febre e sempre me pergunta: “Mamãe, por que a polícia derrubou nossa casa e deixou a gente sem casa?””
4)    “Ten. Cel. Alfredo, como denunciar policiais que pisaram em uma mãe que estava de resguardo, prenderam com truculência três companheiros nossos, inclusive um cadeirante e um apoiador nosso, se os policiais estavam sem identificação?”
5)   “Não tivemos o direito de nos defender no processo. Fomos pegos de surpresa. Como pode uma juíza assinar um papel mandando derrubar 80 casas de alvenaria e jogar 130 famílias nas ruas sem nenhuma alternativa digna?”
6)   “Estamos aqui com muitas contas de aluguel para pagar. O prefeito de Vespasiano vai pagar as nossas contas de aluguel?”
7)   “Perdi a guarda dos meus quatro filhos, porque agora, debaixo da cruz do aluguel, não tenho mais condições econômicas de sustentar meus filhos. Onde vamos encontrar forças para continuar vivendo?”
8)   “Nossa situação é muito precária. Tenho 72 anos e doença grave. Sou mãe de oito filhos que dependem de mim. Eu preciso de moradia. Estou à beira da morte, sem forças para guiar meus filhos. Quero saber o que vocês vão fazer por nós?”
9)   “Ocupamos um terreno que estava abandonado. Era lugar de desova de cadáveres. Vários funcionários da prefeitura disseram que o terreno era público. Ficamos lá oito meses sem saber que havia um processo jurídico contra nós. Nunca fomos intimados para nos defender. Por que só no final apareceu a empresa Lotearte dizendo que era a proprietária?”
10)               “Um cadeirante que teve sua casa destruída e voltou a morar no segundo andar da casa de sua mãe, um barraco na favela. Para sair de lá precisa de pessoas carregá-lo através de uma escada. Até uma mulher com alzaimer teve sua casa quebrada. Por que não respeitam o Estatuto do idoso, as pessoas com deficiências e as crianças, inclusive as mulheres grávidas que moravam na Ocupação?
11)               “Me Jogaram em um aluguel de 750 reais, mas meu salário é o mínimo: 724 reais. Minha filha está tendo que ficar com minha mãe, porque eu trabalho feito uma doida para tentar pagar as contas. Somos de carne e osso. Não somos de ferro. Por que fizeram isso com a gente?”
12)               “Por que uma juíza manda derrubar casas sem alternativa digna para crianças, idosos, cadeirantes e pessoas doentes? Por que não arrumaram casas para nós antes de a gente ocupar lá?”
Em busca de respostas para essas 12 perguntas que interpelam nossa consciência, seguiremos lutando, de forma organizada e coletiva, para que a “sexta-feira da paixão” do dia 04 de novembro de 2014, ocorrida na Ocupação Santa Maria, em Vespasiano, MG, se transforme em um “Domingo de Ressurreição” com moradia própria, digna e adequada para todas as famílias sem-casa do município. Aliás, com o papa Francisco, alertamos: “Toda família tem direito a moradia própria e digna, direito a terra e a seus direitos.”
Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 de dezembro de 2014.





[1] Frei e padre carmelita; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB, PJR, em Minas Gerais; e-mail: gilvanderlm@gmail.com  –www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br - www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: Gilvander Moreira

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