sábado, 16 de novembro de 2024

ESPIRITUALIDADE INSPIRA E ORIENTA O MOVIMENTO DAS COMUNIDADES POPULARES. Por frei Gilvander

 ESPIRITUALIDADE INSPIRA E ORIENTA O MOVIMENTO DAS COMUNIDADES POPULARES. Por frei Gilvander Moreira[1]

3º Encontro de Formação do Movimento das Comunidades Populares (MCP), no Instituto Padre João Geisen, na cidade de São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife, PE. Foto: José
Alves, do MCP.

De 8 a 11 de novembro de 2024 tive a alegria e a responsabilidade de participar e assessorar o 3º Encontro de Formação do Movimento das Comunidades Populares (MCP), no Instituto Padre João Geisen, na cidade de São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife, PE. O tema: Espiritualidade Libertadora. Com a participação de dezenas de lideranças do MCP de oito estados, o Encontro foi muito bom e inspirador.

Com 55 anos de história e lutas permanentes em onze estados[2], o MCP segue construindo comunidades autônomas com vida comunitária e uma série de projetos que primam por ações coletivas em busca dos direitos dos pobres e do bem comum, atuando sempre a partir dos últimos da sociedade, os mais injustiçados. Além de acompanhar luta de posseiros pela terra, de sem-terra por moradia, de quilombolas por território, na linha da Economia Solidária – Economia de Francisco e Clara -, o MCP organizou e coordena Bancos Comunitários chamados de GIC (Grupo de Investimento Coletivo), onde os mais empobrecidos se associam com investimentos mínimos, com juros abaixo do mercado idolatrado e viabilizam empréstimos com juros mínimos que torna possível às pessoas que sobrevivem com pouquíssimo dinheiro comprar o que necessitam e se desenvolverem na vida sem se tornarem escravas da agiotagem das transnacionais de cartão de crédito e dos empréstimos de bancos capitalistas com juros abusivos e extorsivos.

O MCP organiza consórcio de 10, 20 ou 30 pessoas, mais ou menos, para se constituir um fundo que a cada mês, por sorteio, um dos membros pode acessar o dinheiro necessário para comprar algo que se fosse na engrenagem legal do capitalismo, a pessoa teria que se endividar muito. Fazem também consórcio para compras coletivas da semana para o sustento. Ao comprar coletivamente para 10, 20 ou 30 famílias se consegue desconto de até 20% e as despesas de transporte ficam muito menores e o tempo das pessoas fica mais livre também, porque todos/as não precisam ir às compras semanalmente. Organizam e sustentam Mercados ColetivosCasas de Material de Construção Coletivas, Grupo de Trabalho Coletivo na Construção Civil, Grupo de Costureiras, Refeição Coletiva uma vez por mês para fortalecer a amizade, a convivência, celebração de aniversários, avaliar as ações coletivas e agradecer a Deus pelas conquistas. Criaram escolinhas comunitárias que são mantidas pelas famílias sem ajuda de prefeitura e nem de empresas. Tudo isso para as pessoas experimentarem que é possível e mil vezes melhor viver fora de relações escravocratas que o sistema capitalista impõe a todos/as, superexplorando até chupar a última gota de sangue no altar do ídolo mercado/capital. Ter patrão é aceitar ser escravizado.  O MCP Busca de forma coletiva construir vida comunitária com autonomia, buscando romper com as dependências que o sistema do capital impõe.

Morando nas comunidades das periferias das cidades ou no campo, os irmãos e irmãs do Movimento das Comunidades Populares (MCP) há 55 anos se dedicam a construir Comunidades Populares com 10 Colunas. Ei-las:

1ª coluna: SOBREVIVÊNCIA COLETIVA (economia), que integra: Grupo de Investimentos Coletivo (GIC), Grupos de Produção Coletiva (GPC), Grupos de Compras e Vendas Coletivas (GVC ), Grupo de Trabalho Coletivo para prestação de serviço (GTC), com o lema: "Onde há cooperação, não existe exploração!".

2ª coluna: RELIGIÃO LIBERTADORA. Refeições Coletivas, Semana Santa e Natal. Se Deus é Pai, nós somos irmãos e irmãs. Por isso, devemos viver em Comunidade. Lema: "Quem ama de verdade vive no coletivo e não passa necessidade!"

3ª coluna: FAMÍLIA COMUNITÁRIA, que inclui realizar Chá de Bebê, creche, escola infantil. Clubinhos ou Grupo de Crianças e Adolescentes. Dia das Mães, dia dos Pais, Dia dos/as Avós e Dia dos Idosos. Lema: "No campo ou na cidade, família de verdade é na Comunidade!" A partir do processo de realização do 1° Congresso do MCP, descobrimos que a primeira e melhor escola de formação é a barriga da mãe, o colo do pai e os braços da Comunidade.

4ª coluna: SAÚDE, com o lema: "Para o corpo remédio caseiro, para a alma amor verdadeiro.” Tarefas: organizar grupo de saúde popular na comunidade; produzir as plantas medicinais e fazer remédio caseiro; criar caixinha e fundo comunitário de saúde; organizar espaço para acolher as pessoas doentes; tratar as doenças emocionais e não só as físicas; lutar para melhorar a saúde pública dentro e fora da Comunidade.

5ª coluna: MORADIA e URBANIZAÇÃO. Lema: "Moradia e urbanização, só com luta e mutirão!" Lutar por terrenos, casa e saneamento. Ocupação, Reivindicação ou Mutirão.

6ª coluna: ESCOLA. Lema: “Construir escolas comunitárias e lutar para melhorar a escola pública.”

7ª coluna: ESPORTE. Organizar o esporte comunitário, principalmente o futebol. Lema: "Mais importante do que vencer é participar"!

8ª coluna: ARTE. Dança, canto, poesia, teatro, grupos musicais, capoeira... Lema: "Arte popular, para juventude se unir e o povo participar.”

9ª coluna: LAZER. Festas, passeios... Lema: "Lazer com bebida, não; nós queremos união."

10ª coluna: INFRAESTRUTURA. Espaço comunitário para pôr em prática as dez colunas. Lema: "Limpa, bonita e organizada, assim deve ser nossa morada!"

Dedicamos o 1º dia do Encontro para resgatarmos a história, a práxis e a espiritualidade do Movimento “Encontro de Irmãos”, “batizado” por Dom Hélder Câmara na Festa de Pentecostes do ano de 1969, anos de chumbo da ditadura militar-civil-empresarial com brutal repressão às lideranças populares que defendiam os direitos humanos fundamentais e, por isso, contestavam a ditadura que violava de forma atroz a dignidade humana impondo o arbítrio e o autoritarismo político-militar que impôs a miséria, a fome, o analfabetismo e o endividamento dos povos no Brasil, concedendo isenção de impostos para empresários que invadissem a Amazônia, expulsassem os posseiros e expropriassem a terra que eles usavam em harmonia com a floresta.

O Movimento popular-religioso “Encontro de Irmãos”, com o lema “pobre evangelizando pobre”, tinha o objetivo de, a partir da espiritualidade libertadora, superar a fome, a miséria, o analfabetismo e todas as injustiças que se abatiam sobre o povo. Com a bênção e o incentivo de Dom Hélder Câmara, o Encontro de Irmãos se disseminou pela Arquidiocese de Recife em Grupos de Irmãos que faziam semanalmente Círculos Bíblicos, de casa em casa, nas comunidades das periferias e nos campos, envolvendo quem precisava, com acolhida, abraço solidário. Em círculos de poucas pessoas buscava-se ouvir a Palavra de Deus, os apelos divinos, a partir da realidade e da Bíblia.

Ficou evidenciado neste 3º Encontro de Formação do MCP que Espiritualidade une as pessoas e os povos, enquanto as religiões e igrejas como instituições, via de regra, ao priorizarem a reprodução de si mesmas, estão, na prática, desunindo as pessoas e os povos, usando e abusando da fé do povo simples e humilde, usando indevidamente o nome de Deus, catando versículos bíblicos que lhes interessam, em leitura fundamentalista e literalista, para justificar a acumulação de capital de seus chefes (pastores, padres, bispos... – dois dos dez homens mais ricos do Brasil são pastores) e defender políticas de morte capitaneadas pela extrema-direita fascista, que de forma idolátrica tem como lema “Deus acima de todos.”.

Enfim, espiritualidade torna o ser humano mais humano e, assim, verdadeiramente comprometido com a vida, que seja plena para todos, todas, todes e para toda a criação, sempre a partir da sabedoria dos últimos da sociedade, os mais violentados. Feliz quem se torna aprendiz dos/as empobrecidos/as e assimila a fraternidade que eles e elas testemunham. Mais do que Círculo Bíblico, é preciso Encontro de irmãos e irmãs, o que tem o poder de implodir o sistema do capital idolatrado e apontar o caminho para a construção de uma sociedade justa economicamente, com paz e amor.

16/11/2024.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - Frei Betto fala sobre Espiritualidade no 12º Encontro Nacional de Fé Política. em BH/MG. Vídeo 2


2 - Espiritualidade de Encontros humanizadores: Palavra Ética com frei Gilvander Moreira – 21/12/23

3 - Marcelo Barros: Livro OS SEGREDOS DO NOSSO ENCANTO - fé cristã e espiritualidades indígenas e negras

4 - COM FÉ E MÍSTICA DOS MÁRTIRES, O POVO PALESTINO VENCERÁ! Fora, Israel genocida! Por frei Gilvander

5 - Afeto, amor e cuidado em Espiritualidade Libertadora no 3º dia do XV Intereclesial das CEBs, em Rondonópolis, MT, na Plenária-mãe “Casa Comum”. Vídeo 10 - 20/07/23

6 - Momento Orante de Espiritualidade libertadora no 3º dia do XV Intereclesial das CEBs, em Rondonópolis, MT, na Plenária-mãe “Casa Comum”. Vídeo 9 - 20/07/23

7 - TOQUE DO COLETIVO ALVORADA: A Espiritualidade humanista e militante de Frei Gilvander - 30/3/22

8 - Semeando Espiritualidades 52: Espiritualidade e luta pela terra. Por Frei Gilvander - 06/12/21


[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, Movimentos Sociais e Ocupações. 

E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.gilvander.org.br

www.twitter.com/gilvanderluis        –     Face book: Gilvander Moreira III – Canal no You Tube: Frei Gilvander luta pela terra e por direitos

[2] Alagoas, Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Nota urgente! Prefeito de Belo Horizonte, Fuad, deixará as Ocupações Esperança e Vitória, da Izidora, fora do projeto de Urbanização?

  Nota urgente! Prefeito de Belo Horizonte, Fuad, deixará as Ocupações Esperança e Vitória, da Izidora, fora do projeto de Urbanização?

Dia 19 de junho de 2024, cedo, a sede da URBEL[1] da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) foi ocupada pelo Povo da Ocupação Esperança com participação do Povo das Ocupações Carolina Maria de Jesus e Maria do Arraial, juventude do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) e da UP (Unidade Popular pelo Socialismo), e com o apoio da Comissão Pastoral da Terra da Região Metropolitana de BH (CPT/RMBH).

A ocupação da URBEL durou quase dois dias. O presidente da  URBEL, Claudius Vinícius, se negou a reunir com uma Comissão do Povo que ocupava a URBEL. Postura intransigente, inadmissível e absurda de um gestor público que tem a missão de coordenar a política habitacional da PBH. Cerca de 70 policiais da Guarda armada da Prefeitura de BH foram mobilizados com ordens para não deixar ninguém mais entrar e nem alimento durante o 1º dia. O Povo passou fome o dia inteiro dentro da URBEL, pois quando as panelas com o almoço chegaram não deixaram entrar o almoço. Assim, centenas de pessoas ficaram passando fome, entre as quais, crianças, idosos, gestantes, mulheres.

Tivemos que ocupar a sede da URBEL, porque a URBEL e Prefeitura de BH ainda não abriram mão de demolir cerca de 1.000 casas – ação higienista - nas Ocupações Vitória e Esperança com proposta de Urbanização que não é Justa, nem Ética e não considera a Participação Popular. Não aceitamos um modelo de urbanização que implique em despejo de centenas de casas construídas com muito trabalho, suor e sangue. Honraremos Manoel Baía, Kadu e outros companheiros que foram mortos na luta das Ocupações da Izidora por moradia própria e adequada.

De forma autônoma, as Ocupações Esperança e Vitória já realizaram estudos, construído com assessoria aliada das ocupações e os próprios moradores participando de forma coletiva, e apresentaram Proposta de Urbanização alternativa onde se reduz para menos de 100 as casas a serem demolidas. Por que não construir na fazenda de um grande supermercado ao lado da Ocupação Esperança a Avenida que a URBEL diz que deve ser construída rasgando a Ocupação Esperança ao meio, evitando demolir 300 casas? Na Ocupação Vitória não há necessidade de um grande supermercado, mas, sim, de dezenas de pequenos mercados.

A PBH teve a postura absurda de pedir judicialmente a reintegração de posse da sede da URBEL, ou seja, pedir ao judiciário decisão para jogar a tropa de choque da PM para despejar centenas de pessoas que lutam por direitos humanos fundamentais. Se houvesse abertura para o diálogo da direção da URBEL, não seria necessário ocupar a URBEL. Resolvemos sair do prédio da URBEL na iminência da tropa de choque da PM e Guarda Municipal entrar, pois com postura ética preferimos evitar que crianças, idosos, mulheres fossem machucadas, presas e aterrorizadas pela truculência da tropa de choque. Entretanto, se a posição injusta da PBH e da URBEL não mudar, se URBEL e PBH não assumirem compromisso com um Plano de Urbanização Justa, Ética e com Participação Popular, VOLTAREMOS também com o Povo da Ocupação Vitória em número muito maior e com mais força.

Como toda ação gera uma reação, a ocupação do prédio da URBEL se tornou necessária e justa também pelo que segue abaixo.

Dia 8 de maio último (de 2024), o presidente Lula anunciou a liberação de milhões de reais pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para Prefeitura de Belo Horizonte (PBGH) fazer a urbanização de duas Ocupações da região da Izidora, em Belo Horizonte, MG: as ocupações Rosa Leão e Helena Greco, as duas com cerca de 2.000 famílias; Rosa Leão há 11 anos e Helena Greco com 13 anos de luta. A imprensa divulgou valores diferentes. Um site noticiou 250 milhões de reais; outro, 191 milhões de reais e outro, 41 milhões de reais. Pelo princípio da transparência, exigimos saber ao certo os valores anunciados, onde serão aplicados e como?

Foi anunciada a construção de 275 unidades do Minha Casa Minha Vida na região da Izidora, em Belo Horizonte. Construir onde? Na Ocupação Helena Greco, onde a URBEL, da PBH, tem projeto para demolir todas as 400 casas que foram autoconstruídas ao longo de 13 anos de luta? Se sim, as outras 125 famílias irão morar onde? Quanto tempo todas as famílias da Ocupação Helena Greco ficarão sem moradia própria?

Por mais de uma década, a prefeitura esteve do outro lado da barricada e em diversos momentos fez de tudo para que as ocupações fossem despejadas. A resistência das 9.000 famílias das quatro Ocupações da Izidora manteve as casas de pé e, mais, construíram de forma autônoma, verdadeiros bairros consolidados.

A urbanização justa, ética e popular é uma luta histórica das Ocupações da Izidora e não pode ser realizada de forma atropelada e sem a participação do povo. As ocupações Vitória e Esperança estão hoje fora do plano de urbanização da prefeitura, porque não conciliaram com as propostas absurdas feitas pelo poder público municipal. Dia 30 de outubro de 2023, lideranças das Ocupações da Izidora, com integrantes da CPT[2], das Brigadas Populares, do MLB[3] e assessoria técnica foram recebidas em reunião pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, que iniciou a reunião dizendo que a Prefeitura de BH, através da URBEL, já estava com projetos prontos para encaminhar ao presidente Lula para urbanizar as Ocupações Rosa Leão e Helena Greco com dinheiro do PAC, mas que as outras duas Ocupações, as maiores, - Esperança e Vitória -, ficariam fora porque as famílias destas duas Ocupações não aceitaram o projeto de urbanização apresentado pela URBEL, no qual está claro que a Prefeitura e a URBEL querem demolir cerca de 1.000 casas nas duas ocupações. Não assinamos embaixo de nenhuma proposta de despejo, ou que não traga nenhuma alternativa prévia, digna e justa ao nosso povo.

De forma independente, as ocupações já realizaram estudos, construídos com assessoria aliada das ocupações e os próprios moradores participando de forma coletiva e apresentaram uma proposta alternativa onde se reduzia para menos de 100 as casas a serem demolidas.

Estudos como esse mostram o verdadeiro caráter higienista da prefeitura, que acha que para urbanizar é importante remover pobres e dar características que atraiam pessoas de poder aquisitivo maior para a região.

Companheiras e companheiros das Ocupações da Izidora, ao longo de mais de uma década, nosso rumo, o que guiou nossos caminhos foi a luta. Exigimos que a prefeitura de Belo Horizonte e a URBEL cumpram o seu papel e urbanizem as quatro Ocupações da Izidora - Helena Greco, Rosa Leão, Esperança e Vitória -, mas também exigimos que todo esse processo seja feito com respeito e em colaboração com as famílias que já vivem nas Comunidades da Izidora. Por isso, não podemos esperar parados quaisquer ações do poder público, devemos lutar para que a urbanização aconteça e que aconteça de forma justa para o bem do povo. Não aceitaremos despejos disfarçados de urbanização.

Assinam esta Nota Pública:

Coordenação da Ocupação Esperança

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)

Comissão Pastoral da Terra (CPT/RMBH)

Unidade Popular pelo Socialismo

Belo Horizonte, MG, 20 de junho de 2024

Obs.: As videorreportagens no link, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - URBEL/PBH ocupada pelo Povo da Ocupação Esperança, Izidora, BH/MG: Urbanização Justa e Popular, JÁ!




 



[1] Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte.

[2] Comissão Pastoral da Terra.

[3] Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Umbanda, religião que prega o amor, a paz, a fraternidade e o respeito. Por frei Gilvander

 Umbanda, religião que prega o amor, a paz, a fraternidade e o respeito. Por frei Gilvander Moreira[1]

Cartazes em uma praça de Ibirité, MG, onde aconteceu sessão (gira) de Umbanda, dia 15/11/23. Foto: Alenice Baeta

No dia 20 de novembro de 2023, Dia da Consciência Negra, dia do martírio de Zumbi, em 1695, líder do Quilombo de Palmares, dia de reforçarmos as lutas justas e necessárias para superarmos as relações sociais escravocratas com acesso à terra, à moradia digna, à educação emancipatória, à saúde pública de qualidade, à cultura libertadora, com protagonismo do povo negro, em lutas que superem o racismo estrutural e institucional incrustado no capitalismo, ciente de que dentro do capitalismo é impossível se superar o racismo e o colonialismo, marchemos para a construção de uma sociedade socialista com as especificidades brasileiras. No dia de hoje dedico um tributo ao Povo Negro, especialmente ao povo da Umbanda que se congrega em uma grande pluralidade.

Dia 15 de novembro de 2023, parece que conduzido pelos bons espíritos, tive a alegria de assistir a uma sessão (gira) de Umbanda em uma das praças da cidade de Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, MG. Ao passar pela praça, me chamou a atenção a presença de um grupo vestido de branco, as mulheres com vestido rodado e uns cartazes que diziam: “Dia 15 de novembro é Dia Nacional da Umbanda”. Outro cartaz dizia: “A roupa branca que você gosta de vestir na virada do ano é da religião que você oprime o ano inteiro”. Outro cartaz dizia: “Não precisamos de Dia da consciência negra, branca, parda ou albina, mas de 365 dias de consciência humana. Viva a Umbanda!”. “A Umbanda é uma religião que abre suas portas para todos sem julgamento, apenas acolhe com amor, fraternidade e respeito”. “Intolerância religiosa é crime”, dizia outro cartaz, da Tenda Estrela da Guia, do Caboclo Rompe Mato. Faz parte de uma importante e complexa categoria de Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Ancestral Africana, os “Povos de Terreiro”, compostos pelos segmentos do Candomblé das nações de Ketu, Angola e Jeje, Angola-Muxikongo, de Umbanda e Omolocô de diferentes linhas e por Reinados nas mais diversas linhagens, dentre outros.

Rubens, um dos umbandistas que coordenava os trabalhos, me disse que apenas nos últimos anos eles estão podendo celebrar na praça, pois durante várias décadas tiveram que celebrar escondido para não serem perseguidos. O Rubens me acolheu e disse que eu poderia ficar à vontade, inclusive filmar, se eu quisesse. Acabei filmando quase 90 minutos a sessão de Umbanda na praça pública, com atabaques e cantorias que cantam a libertação do povo negro escravizado e a bênção dos ancestrais. Rezaram algumas vezes Pai Nosso e Ave Maria. Fizeram sinal da cruz e preces inclusive a Nossa Senhora do Rosário. Estiveram presentes no ritual integrantes da Guarda de Moçambique de Ibirité. Algumas pessoas, fumando cachimbo, incorporaram Caboclo Velho, que ofereceu passe a quem quis. Com um defumador todas as pessoas foram incensadas. Vinho e outra bebida foram partilhados e no final uma canjica foi partilhada com todas as pessoas presentes. Enfim, saí de lá me sentindo abençoado por outra religião e me perguntando: Por que pessoas que se dizem cristãs, sejam católicas ou (neo)pentecostais perseguem os Povos de Terreiro? Vi que existem muitas semelhanças entre a celebração na Umbanda e as celebrações que se fazem nas igrejas cristãs: cantos, orações, bênçãos, partilha etc. Mesmo que fossem totalmente distintas as formas de celebração e de rituais, não há motivo para discriminação e muito menos perseguição, pois os Povos de Terreiro  pregam o amor, a paz, a fraternidade e o respeito. Além do mais, o Brasil é um país laico, ou seja, está garantido na Constituição Federal de 1988 a liberdade de credo de todas as religiões e igrejas, bem como a alteridade cultural. O Brasil não é um país confessional, de uma única religião, o que seria ditadura religiosa. O que é tipificado como crime é a intolerância religiosa. Sei que o preconceito é fruto de desconhecimento e falta de informação correta e histórica. Não há como amar o que se desconhece.

O biblista e teólogo da Teologia da Libertação Marcelo Barros nos recorda que “o termo Umbanda vem do idioma quimbunda de Angola e significa “arte de curar”, ou hoje podemos traduzir por “arte de cuidar”, o que liga a fé e a espiritualidade ao cuidado uns dos outros/umas das outras, assim como cuidado da mãe-Terra e da natureza. Assim como em sua sociedade Jesus valorizou os samaritanos, cultural e espiritualmente, reconhecemos nas comunidades de Umbanda essas comunidades samaritanas que têm ajudado as pessoas negras e pobres a salvaguardar a consciência de sua dignidade humana e a necessária e salutar cultura comunitária da qual a nossa sociedade precisa tanto.

Dia 15 de novembro deste ano de 2023, celebramos o aniversário de 115 anos da criação da Umbanda, uma religião propriamente brasileira. No dia 15 de novembro de 1908, em São Gonçalo, periferia do Rio de Janeiro, o médium Zélio Fernandino de Moraes fundou a Umbanda, que se baseia em três conceitos fundamentais: Luz, Caridade e Amor. O termo “Umbanda” vem de Angola e quer dizer “arte de curar”. A Umbanda sintetiza elementos do Candomblé banto, do Espiritismo kardecista e do Catolicismo popular.

Infelizmente, até hoje, há grupos cristãos fundamentalistas que combatem e perseguem as religiões afrodescendentes. É mais triste ainda constatar que fazem isso em nome de Jesus. Conforme o Evangelho, Jesus afirmou que pelos frutos se conhece a árvore. No Brasil e em todo o continente, os frutos das religiões negras têm sido preservar as culturas originárias, manter a unidade das comunidades e, em nossos dias, testemunhar a toda a humanidade uma espiritualidade que liga o amor social ao cuidado afetuoso com a mãe-Terra e toda a natureza.

No passado e até hoje, a Umbanda e as outras religiões indígenas e negras foram discriminadas, condenadas e mesmo perseguidas pela nossa Igreja e, hoje ainda, por grupos católicos fundamentalistas e (neo)pentecostais. Por isso, temos uma dívida moral com a Umbanda e as espiritualidades de matriz afro e podemos, em nome de Jesus, afirmar em bom e alto sim: Viva a Umbanda!

Filmei e pus no youtube no Canal “Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos” quase 90 minutos da sessão de Umbanda que assisti, para quem quiser assistir e conhecer um pouco da beleza ética e espiritual da Umbanda e dos demais Povos de Terreiro.

Sejamos construtores de paz com respeito entre as religiões, igrejas e pessoas religiosas e não apenas tolerância. Que a luz e a força divina nos guiem sempre inclusive no processo de libertação de preconceitos e discriminações.

 20/11/23

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - 15/11, Dia Nacional da Umbanda, que é Amor, Paz, Fraternidade e Respeito. Intolerância Rel. é crime!


2 - Curta-documental O CHAMADO DA UMBANDA

3 - O Que é Umbanda – Documentário



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III 

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Catar versículos bíblicos para justificar preconceitos? Por frei Gilvander

 Catar versículos bíblicos para justificar preconceitos? Por frei Gilvander Moreira[1]

Foto Reprodução de Redes Virtuais

Invocado sob muitos nomes, mistério de amor que nos envolve e perpassa, Deus, segundo a Bíblia, se revela na história[2], nas entranhas dos fatos e acontecimentos que fazem a história. Assim, para quem acredita em Deus, a caminhada e lutas de libertação de todo e qualquer tipo de escravidão se dá na companhia amorosa de Deus. A revelação de Deus se faz presente na transitoriedade humana, ou seja, no tempo e no espaço com a progressividade de um caminho com início, realização e o cumprimento em Cristo Jesus. Isso não significa dizer que seja um caminho sem tensões, retrocessos e avanços. O caminho da revelação divina se faz na história das lutas libertárias dos povos explorados e injustiçados e por meio da palavra que a interpreta e orienta. Nas relações humanas e sociais dos acontecimentos históricos a iluminação interior confere ao profeta/profetisa ou à comunidade de fé a inteligência de ler, à luz de Deus, os acontecimentos, seja pela palavra oral ou escrita, fazendo a leitura e a interpretação dos fatos e da realidade que nos envolve.

          A revelação bíblica não é mágica. Ela passa pela mediação humana não só porque a palavra chega até nós por meio dos profetas/profetisas e dos/as apóstolos/as e, por ser histórica, ela necessita da mediação para ser transmitida e atualizada para o ser humano e a comunidade que a acolhem. A revelação é o entrelaçar-se de movimentos históricos e sagrados da iniciativa livre e gratuita de Deus e das reflexões do ser humano para compreendê-la e abraçá-la.

          A revelação é dialógica e pessoal por meio do encontro de Deus com o ser humano, que se coloca em uma atitude de escuta e de abertura ao mistério de amor que nos envolve. É um diálogo profundo, vital; não só troca de conhecimentos. Deus fala com o ser humano para libertá-lo e torná-lo humano-divino. Podemos dizer que a revelação é, ao mesmo tempo, teológica e antropológica, porque revela o mistério de Deus e a vocação/missão humana. Deus revela o seu desígnio sobre o ser humano, a história, dá normas de conduta, explica os acontecimentos que são dados ao ser humano para viver, conviver e lutar para que um projeto de vida para todos/as se torne realidade: o reino de Deus a partir do aqui e do agora. Deus se revela em uma comunhão de pessoas, em um diálogo de conhecimento e de amor, no qual o ser humano é inserido pela fé, que é disposição existencial para acolher e lidar com o mais profundo do nosso ser.

          A revelação divina manifesta-se trinitária em que as três pessoas da Trindade Santa estão na origem com modalidades próprias da revelação: o Pai tem a iniciativa de buscar comunhão com o ser humano; Jesus Cristo é a revelação plena do amor do Pai e do Espírito Santo, que interpreta e atualiza as palavras, gestos e sinais que Jesus realizou. Jesus Cristo é revelador do Pai e do Espírito Santo e de si mesmo, ao realizar o projeto do Pai/Mãe, repito, mistério de infinito amor. Jesus é o revelado pelo Pai: “Tu és meu Filho amado, em ti me comprazo” (Mc 1,11) como também na transfiguração: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o” (Mt 17,1-8). Em Jesus Cristo a revelação encontra o seu cumprimento pleno. Enquanto no Primeiro Testamento a espera de Cristo é incompleta e ainda não realizada, no Segundo Testamento bíblico, mesmo que o Cristo seja a revelação máxima, é “ainda não”, será plena só na escatologia, no fim dos tempos; enquanto estamos no tempo presente, resta sempre uma revelação na fé.

          A Revelação é sempre iniciativa de Deus em busca do ser humano, a quem se revela de mil formas desde a criação do universo nas ondas da evolução, do próprio ser humano e ao longo da sua história. Ao registrar estas experiências de encontro com os/as hagiógrafos/as, são estes/estas mesmos/as que reconhecem, novamente, que é Deus quem os inspirou e conduziu para que escrevessem tudo aquilo que é da sua vontade, e para a nossa libertação e salvação.

Como se dá a inspiração dos textos bíblicos? No documento do Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, Dei Verbum, os Padres conciliares afirmam, com convicção, que todos os escritos da Sagrada Escritura foram inspirados pelo Espírito Santo. Dizem eles: “consideram como sagrados e canônicos os livros inteiros tanto do Antigo como do Novo Testamento com todas as suas partes. Todavia, para escrever os Livros-Sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens – e mulheres - na posse das suas faculdades e capacidades para que agindo neles e por meio deles, pusessem por escrito como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que ele quisesse[3].”

          Como esses livros foram escritos por homens e mulheres, à maneira humana, quem interpreta as Sagradas Escrituras deve investigar com atenção o que os/as hagiógrafos/as quiseram dizer e aprouve a Deus revelar por meio deles e delas. Para isso, devem ser levados em conta os gêneros literários para descobrir o sentido que os/as hagiógrafos/as, segundo as condições de tempo e cultura, quiseram expressar. Havia entre pessoas de Deus, profetas e profetisas, sacerdotes e sábios dos Povos da Bíblia (Jr 18,18) que foram considerados mediadores da mensagem divina, cuja autoridade é inquestionável. Óbvio que, como na busca do ouro é preciso peneirar o que está junto com o ouro, mas não é ouro, ao ler um texto bíblico precisamos interpretar, ou seja, peneirar o sentido que possivelmente é mensagem divina e o que o/a autor/a colocou ali pelos seus condicionamentos culturais, sociais e religiosos.

          Quando os/as autores/as do Segundo Testamento citam o Primeiro Testamento bíblico, referem-se aos seus autores e autoras, aos quais conferem um valor divino. A Igreja reconhece também nas palavras desses profetas[4] a presença de um carisma semelhante ao dos antigos profetas (Lc 1,70; At 2,24). As cartas do Apóstolo Paulo circulavam entre as comunidades, eram lidas e refletidas por elas, conforme nos informam as próprias cartas (Cl 4,16; 1Ts 5,27).

          Depois de considerarmos a Revelação divina para a humanidade por livre iniciativa e por amor, lembrando que Deus inspirou homens e mulheres ao longo da história, para registrarem a experiência humana, social e religiosa que o povo fez com o mistério de amor que nos envolve, não podemos esquecer que a Bíblia é uma biblioteca, 73 livros, ou seja, a Bíblia é obra literária...
e como tal deve ser interpretada. É ingenuidade e erro grave dizer: “a Bíblia basta ser lida e colocada em prática”. Toda leitura suscita e requer interpretação, que precisa ser sensata e libertadora. Não podemos sair catando versículos e citando-os para justificar nossos preconceitos e posturas muitas vezes moralistas e fundamentalistas, o que recai em idolatria.

08/11/2023

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 – Agir ético na Carta aos Efésios: Mês da Bíblia de 2023. Por frei Gilvander (Cinco vídeos reunidos)

2 - Andar no amor na Casa Comum: Carta aos Efésios segundo a biblista Elsa Tamez e CEBI-MG - Set/2022

3 - Toda a Criação respira Deus: Carta aos Efésios segundo o biblista NÉSTOR MIGUEZ e CEBI-MG, set 2022

4 - Chaves de leitura da Carta aos Efésios, segundo o biblista PEDRO LIMA VASCONCELOS e CEBI/MG –Set./22

5 - Estudo: Carta aos Efésios. Professor Francisco Orofino

6 - Carta aos Efésios: Agir ético faz a diferença! - Por frei Gilvander - Mês da Bíblia/2023 -02/07/2023

7 - Bíblia, Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste

8 - Contexto para o estudo do Livro de Josué - Mês da Bíblia 2022 - Por frei Gilvander - 30/8/2022

9 - CEBI: 43 anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção pelos Pobres



[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Cf. MORALDI L. Rivelazione In: Nuovo Dizionario di Teologia Biblica, Edizione Paoline: Torino, 1988, p. 1375.

[3] CONCILIO VATICANO II. Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina. Dei Verbum, São Paulo: Paulinas, 2005, p. 15.

[4] At 11,27; 13,1; 1Cor 12,28; 14,37; Ef 4,11.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Por que e para que matas teu irmão palestino? Por frei Gilvander

 Por que e para que matas teu irmão palestino? Por frei Gilvander Moreira[1]

Por Paz com Justiça entre os Povos judeu e palestino!



Ignorando resolução da Assembleia Geral da ONU e convenções de Direito Internacional Humanitário, Israel aumentou ataques e está exterminando milhares de civis em Gaza. A cada minuto aumenta o número de mortos. O Ministério da Saúde da Palestina informou dia 30 de outubro último (2023), que, em Gaza,  são mais de 20 mil feridos e 10 mil palestinos assassinados, sendo que 73% dos mortos são crianças, mulheres e idosos.

O palestino Ahmed Shehada, presidente do Instituto Brasil Palestina, denuncia: “Não é uma guerra, é um massacre, um apartheid, um genocídio o que Israel está fazendo conosco, Povo Palestino. Os hospitais de Gaza entraram em colapso. Desde o dia 7 de outubro de 2023, Israel jogou mais de 15 mil toneladas de bomba em Gaza. Há evidências de ataques a hospitais, ambulâncias e escolas, assassinatos de funcionários da ONU e Cruz Vermelha, despejo de toneladas de bombas e mísseis, incluindo utilização de fósforo branco, arma química proibida pela legislação internacional, além do bloqueio total da entrada de alimentos, água e combustível, com corte de energia elétrica e até de internet; destruição de hospitais, escolas, igrejas; impedimento até mesmo da entrada de ajuda humanitária. Repórteres também estão sendo assassinados, pois Israel não quer que o mundo tenha acesso às imagens que comprovam o genocídio. Elementos estes que configuram claramente a prática de punição coletiva.”



Estou muito indignado com o massacre e o genocídio que o desgoverno de Israel está fazendo com o povo palestino. Parece que os judeus de extrema direita não aprenderam nada com o holocausto sofrido pelos povos judeus, ciganos ... pelo nazismo de Hitler. Óbvio que não podemos condenar todos os judeus, pois o judaísmo é um movimento extremamente plural. Judeus humanistas deixaram um imenso legado à humanidade, tais como Karl Marx, Albert Einstein, Sigmund Freud, Rosa Luxemburbo e muitos outros.

De forma impactante deixou por escrito pouco antes de ser morta sob os escombros em Gaza, a premiada romancista e poeta  palestina Heba Abu Nada: “... somos pessoas Justas e do lado da Verdade”. Em 1920, ainda com o território palestino sob a administração britânica, o cientista Albert Einstein escreveu uma carta a um árabe, com uma proposta secreta, na qual dizia: “nós, árabes e judeus, devemos escolher um conjunto de pessoas, um conselho, em que haja sempre paridade absoluta de um lado e de outro, para fazermos um caminho em conjunto pela autonomia e para reivindicarmos esta terra para nós judeus e árabes.”



O Povo Palestino não é terrorista, é povo de uma humanidade extraordinária, povo heroico. Não nos calemos diante do massacre dos palestinos pelo governo racista, colonial, terrorista e genocida de Israel, que iniciou há 76 anos a matar palestinos e invadir o território deles, quando não existia Hamas e havia outra desculpa para matar e expulsar os Palestinos de seu território.

Tem direito de defesa quem é atacado e violentado. Se o Estado de Israel ataca, violenta, mata 170 mil Palestinos nos últimos 76 anos, invade suas terras, expulsa Palestinos, mata mais de 3 mil crianças em 23 dias de bombardeio, Israel está sendo Estado terrorista e não tem direito de defesa. Quem tem direito de defesa são os violentados, os Palestinos.

O Jornal Nacional da TV gLOBO, como a mídia comercial e coorporativista ocidental, diariamente está fazendo propaganda pró-Israel disfarçada de notícia isenta. A mesma TV gLOBO que cresceu lambendo as botas dos generais da ditadura militar, civil e empresarial, agora passa pano para o Estado genocida de Israel. Foca em “220” israelenses sequestrados (?), não sabemos quantos são de fato, e omite que o governo nazifascista de Israel mantém presos/sequestrados milhares de palestinos, inclusive crianças de 12 anos e adolescentes, e que em 76 anos matou mais de 170 mil palestinos, invadiu o território dos palestinos, cortou acesso à água, torturou e matou de muitas formas.

O secretário geral da ONU, Antônio Guterrez, disse a pura verdade e o mínimo que precisa ser dito e defendido: O Hamas não fez o que fez por acaso. A reação do Hamas em 7 de outubro último (2023), criado pela postural colonial e de apartheid do governo de Israel, é uma resposta desesperada à matança do povo palestino. Exigimos cessar fogo e negociação JÁ para que se crie de fato o Estado Palestino e se respeitem todos os direitos do histórico Povo Palestino. Com o apoio dos Estados Unidos e a cumplicidade de governos europeus, o desgoverno de Israel, de extrema-direita, está fazendo GENOCÍDIO do Povo Palestino em Gaza.

Além dos réus principais  - os judeus sionistas, os governos de Israel e dos EUA - outros atores devem ser arrolados como cúmplices e julgados: a mídia comercial nacional e internacional, com seu papel de máquina de guerra do sionismo, a manipular os fatos e a tentar justificar o genocídio contra um povo; os governos do mundo inteiro que foram  - são  - coniventes com esse massacre covarde, que tentam chamar de guerra,  mas que nunca foi uma guerra: o que há é o cerco de um território onde apenas um exército fortemente armado e com apoio da maior potência militar do mundo – Estados Unidos - pratica durante várias semanas um genocídio, com requintes de crueldade.

É evidente que não podemos condenar todo e qualquer judeu como responsável pela matança de palestinos, algo que ocorre há muitas décadas. Como sinal de luz, ética e esperança, tanto em Israel como em muitos países, existem judeus humanistas se manifestando contra o genocídio que o desgoverno de Israel está perpetrando contra o Povo Palestino. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e a classe dominante de Israel são os maiores responsáveis. Urge construirmos um mundo de justiça e paz. Judeus e palestinos, pessoas de boa vontade de todas as partes do mundo, todos nós, estamos convocados a ouvir o clamor dos oprimidos e recriar o mundo com instituições éticas e com relações sociais justas. Manifestações de civis eclodem em muitos países do mundo atônitos e revoltados contra este novo holocausto que está em curso.

O Governo brasileiro, liderado pelo presidente Lula, precisa se posicionar de forma contundente contra o Estado de Israel, que está sendo colonialista, genocida e praticando holocausto contra o povo palestino. Aliás, o Brasil e os demais países precisam cancelar todos os acordos comerciais e suspender relações diplomárticas com Israel até que aconteça um cessar fogo e se encamimhem negociações que levem à Paz com Justiça, o que inclui necessariamente a reconhecimento do Estado Palestino e que sejam devolvidos ao Povo Palestino todos os territórios invadidos por Israel.

 A humanidade não pode deixar impune o massacre de um povo que está sendo visto, televisionado nas redes sociais e canais alternativos, para todo o planeta.

Se nada for feito, a destruição covarde, vil, cruel do povo palestino será a destruição da própria humanidade, ou do que restou de humano em todos nós.

É urgente cessar o genocídio contra a população palestina, que em Gaza forma mais de dois milhões de pessoas, sobretudo crianças, mulheres e idosos.

É urgente julgar e punir todos os envolvidos diretos e indiretos nesse genocídio realizado no maior campo de concentração a céu aberto.

Defendemos a paz e que Israel pare de matar inocentes! Queremos o reconhecimento do Estado da Palestina e que todos os os crimes de guerra de Israel sejam julgados pela ONU e os tribunais internacionais.

Termino alertando aos judeus sionistas: matar teus irmãos palestinos será em um futuro próximo matar vocês mesmos, pois como Hitler e os nazistas foram jogados na lata de lixo da história e todos os violentos e opressores da história foram vencidos, vocês também que insistem na brutalidade, serão vencidos e serão jogados na lata de lixo da história. E os palestinos mortos ressurgirão e serão milhões cada vez mais humanos e fortes. Que a luz e a força divina nos guiem sempre na luta pela paz com justiça. Viva a luta do povo Palestino!

31/10/23

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - Frei Gilvander sobre o genocídio do Povo Palestino: “Governo de Israel fascista, racista e genocida"

2 - Massacre e genocídio que Israel faz há 76 no meio do Povo Palestino: Pare o genocídio! PAZ, JÁ!

3 - HAMAS: O QUE QUER A ORGANIZAÇÃO EM GUERRA CONTRA ISRAEL? - OSAMA HAMDAN - PROGRAMA 20 MINUTOS

4 - A luta contra o apartheid do Estado de Israel e a solidariedade internacional

5 - A HISTÓRIA DO HAMAS E DA RESISTÊNCIA PALESTINA - 20 MINUTOS ANÁLISE, POR BRENO ALTMAN



[1]Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

 

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Se não reduzir a mineração no quadrilátero aquífero, BH e RMBH ficarão sem água – Por frei Gilvander

  Se não reduzir a mineração no quadrilátero aquífero, BH e RMBH ficarão sem água – Por frei Gilvander Moreira[1]


Com o avanço brutal da mineração no Quadrilátero Aquífero e Ferrífero de Belo Horizonte (BH) e Região Metropolitana (RMBH), se a mineração não for reduzida para o mínimo necessário, os quase 6 milhões de pessoas de BH e RMBH ficarão sem água, sem agricultura famíliar, sem ambiente, enfim, sem condições objetivas de vida, será a desertificação da região. Só não percebe isto quem está cegado pela ideologia da mineriodependência, do progressismo e pela idolatria do mercado, ou é de má-fé ou egocêntrico, está ganhando dinheiro fazendo funcionar a máquina de guerra da mineração que gera acumulação de capital para 1% da sociedade e miséria e violência socioambiental para 99% do povo e toda a biodiversidade. Os sinais e as provas são inúmeros. Não há só fumaça, mas fogo mesmo. Vamos mencionar alguns abaixo.

Assim como a cidade de Itabira, em Minas Gerais, após mais de 80 anos de mineração devastadora, está praticamente dentro de crateras da mineradora Vale S/A e ostentando o triste título de uma das cidades do Brasil com maior número de suicídio e de pessoas com depressão – “Itabira, apenas um quadro na parede”, denunciava o poeta Drummond -, as 34 cidades da RMBH, em visão panorâmica aérea, parecem estar cada vez mais encurraladas por crateras de mineração com danos socioambientais brutais. Pior: está aumentando de forma estarrecedora o número de novos projetos de mineração na RMBH. São dezenas. Em BH, se não fosse a luta hercúlea do Quilombo Manzo e de muitos movimentos socioambientais, a situação seria bem mais grave, pois as mineradoras insistem em liquidar com o pouco de Serra do Curral que ainda resiste.

As 17 audiências do Plano de Desenvolvimento Integrado da RMBH (PDDI-RMBH), em agosto de 2023, demonstraram que as 34 cidades da RMBH estão em acelerado processo de conurbação, ou seja, é exorbitante o número de novos loteamentos e a expansão da maioria das cidades da RMBH. As áreas rurais estão sendo ocupadas por novos bairros, loteamentos e ocupações irregulares. Foi denunciado com ênfase que a causa maior da escassez hídrica e da desigualdade em BH e RMBH se deve à hegemonia das mineradoras que estão causando brutais devastações socioambientais e impondo a mineriodependência de forma atroz. O povo de Brumadinho está adoecido. A Fiocruz comprovou a existência de metais pesados no sangue de muita gente de Brumadinho. O número de suicídio está crescendo.



O projeto do desgovernador de Minas Gerais, Romeu Zema, de construir um “Rodoanel” na RMBH é inadmissível, porque será na prática um rodominério, ou seja, infraestrutura para as mineradoras continuarem expandindo a mineração na RMBH, o que é insuportável. Em nome dos direitos da natureza e dos direitos das próximas gerações, ético se faz implementar mineração zero em BH e RMBH, mas o Governo de MG, sob os ditames da extrema direita e vassalo do neocolonialismo capitalista, segue em conluio com as grandes mineradoras e as grandes empresas asfixiando as condições de vida de quase 6 milhões de habitantes e de bilhões  de seres vivos que têm direito de viver na RMBH. A toque de caixa, a SUPRI[2] e a Câmara de Atividades Minerária do COPAM[3], como uma casa de horrores, aprova todos os grandes projetos de mineração ao arrepio dos estudos imparciais que demonstram que serão brutalmente danosos ao ambiente e à sociedade.

No último dia 19 de outubro (de 2023), aconteceu na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na Comissão de Meio Ambiente, a 2ª Audiência Pública buscando garantir a preservação da Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito, MG, e reivindicando o arquivamento do Projeto de Lei 387/23, que visa mudar o perímetro da Estação Ecológica de Aredes para que a mineradora Minar volte a minerar no coração da Estação Ecológica de AREDES. Reivindicamos que a Comissão de Meio Ambiente dê parecer pró-arquivamento do PL 387. Em um país com relações sociais injustas, o simples fato de requentar este famigerado PL pela 3ª vez nas três últimas legislaturas, seria o suficiente para indiciar como criminosos os que defendem este crime planejado e anunciado.

Os donos da mineradora Minar e seu séquito de “técnicos” preferiram não participar da 2ª Audiência Pública, certamente porque na 1ª Audiência Pública e na Visita Técnica na Estação Ecológica de Aredes passaram vexame e vergonha ao terem todos seus pretensos argumentos desmascarados como infundados e propaganda mentirosa. Não foram trazidas também as pessoas manipuladas que lotaram um ônibus da 1ª vez, pago por adeptos da mineradora Minar, sem saber o que fariam na ALMG, vieram apenas para receber salário de uma pessoa escravizada por dia, para marcar presença e vaiar quem defendia AREDES. Triste ver pessoas vulneráveis sendo usadas por exploradores que vendem a propaganda de que “mineração traz emprego e desenvolvimento”. Mentira! Quando uma mineradora emprega alguém desemprega em massa, pois asfixia outros modelos de economia e gera a danosa mineriodependência.

Na 2ª Audiência Pública vieram representantes da SEMAD[4], do IEPHA[5] e um diretor de Parques responsável por cuidar de AREDES. Não disseram coisa com coisa, se esquivaram de se posicionar sobre o PL 387 que, se aprovado, devastará a Estação Ecológica de AREDES, mas com evasivas deram a entender que o posicionamento do desgoverno de MG é pró-PL 387, o que significa o governo de MG de joelhos diante do lobby para minerar e devastar AREDES. Prova disso é que o autor do PL 387/23 é o deputado João Magalhães (do MDB), líder do Zema na ALMG.

Estarrecedor é que o PL 387 já tenha sido aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da ALMG com apenas arremedo de estudos feitos pela própria mineradora Minar, que contratou consultores sem conteúdo, que não conhecem o contexto ambiental, hídrico e patrimonial de Aredes. Como uma serpente e em silêncio, os ‘representantes’ da mineradora MINAR mudaram agora a estratégia, mas continuam a fazer lobby junto às Comissões da ALMG e junto à SEMAD do Governo Zema, haja vista o comportamento dos representantes do Estado (SEMAD, IEF e IEPHA) que foram de corpo presente à Audiência Pública, mas devem ter sido adestrados para não falar nada contra o famigerado PL, tendo em vista o aparelhamento da atual gestão do Governo de Minas Gerais com os interesses da mineração e do capital. Vergonhoso o despreparo técnico dos representantes do governo estadual que ali compareceram. O Ministério Público de Minas Gerais já expediu Recomendação advogando o arquivamento do PL 387 por ser profundamente danoso aos interesses da Estação Ecológica de Aredes e sem consistência técnica alguma, confirmando as denúncias da população e a Nota Técnica realizada pelos pesquisadores que atuam na região e entregue para as deputadas estaduais Bella Gonçalves (PSOL) e Beatriz Cerqueira (PT).

A Estação Ecológica de Aredes foi criada em 2010 por causa da luta justa para se salvar um pouco dos brutais danos que a própria mineradora Minar tinha causada em Aredes. Foi preciso uma Ação Civil Pública para exigir que se salvasse AREDES, porque a mineradora Minar tinha deixado três crateras e até hoje ainda tem passivo (danos) ambiental produzido por ela em Aredes. Ou seja, a Minar cometeu muitas infrações e irregularidades, violentou Aredes, de forma impiedosa. Não tem nenhuma moral para tentar voltar a praticar mais crimes em AREDES. Absurdo também é o fato do “PL 387” para minerar em Aredes, arquivado nas últimas duas legislaturas, estar sendo requentado pela 3ª vez.

São muitos os “capitães do mato” que defendem e fazem lobby pela aprovação do PL 387/23 na ALMG para a mineradora Minar voltar a cometer outros crimes socioambientais, históricos, arqueológicos e culturais na Estação Ecológica de Aredes, mas eles evitam mostrar a cara, pois é motivo de grande vergonha defender uma atrocidade como esta. Eis algumas, abaixo.

O município de Itabirito vem sendo sacrificado pela mineração há mais de 300 anos; primeiro, mineração de ouro, e nas últimas décadas, de ferro. Com altitude de 1.586 metros, o Pico Itabirito, com tombamento estadual e definido como Patrimônio Natural, segundo a Constituição de Minas Gerais, desde 1989, está há várias décadas como “Jesus na Cruz”, dilacerado, com todo o seu entorno carcomido, sua base e com seus pés roídos pela mineração que não respeita nada. Pico do Itabirito, crucificado pelas mineradoras, está exposto em uma sexta-feira da paixão sem fim que as mineradoras com o apoio do Estado vem impondo diariamente.

Nos últimos anos, a mineradora Vale fez uma “muralha da China” em Itabirito para conter o tsunami de rejeitos minerários das barragens de Forquilha I, II, III, IV e V, a 11 Km de distância no vizinho município de Ouro Preto. Trata-se de uma muralha de concreto compactado que, segundo a Vale S/A, custou 1,2 bilhão de reais, com mais 350 metros de extensão de uma montanha a outra, com 30 metros de espessura e 94 metros de altura. Esta megaobra já impactou o singelo São Gonçalo do Bação e sua população.  

Aredes é um extraordinário sítio arqueológico, onde existiu a Fazenda Aredes, marco zero do povoamento no munícipio de Itabirito, com testemunhos arqueológicos exuberantes, conforme muito bem demonstrado em uma robusta obra literária organizada pela pesquisadora Alenice Baeta intitulado: “Aredes – Recuperação Ambiental e Valorização de um Sítio Histórico e Arqueológico, publicada em 2016.  

A mineradora Minar insiste em minerar mais uma montanha em Aredes de campos ferruginosos e de vegetação rupestre com espécies endêmicas, ou seja, que só existem ali e em mais nenhum lugar do mundo. Estes campos rupestres de Aredes irrigam os Córregos Silva e Aredes, que se tornam o Córrego Mata-Porcos que, ao desaguar no rio Itabirito, lhe acrescenta 40% de água de classe especial, o que garante o abastecimento público da cidade de Itabirito. E o rio Itabirito, ao se encontrar com o rio das Velhas, tem praticamente o tamanho e o volume de água do rio das Velhas, que, na capitação de Bela Fama, em Nova Lima, oferece cerca de 50% do abastecimento público de BH e RMBH. Ou seja, minerar mais em Aredes irá secar os córregos Silva e Aredes, o que inviabilizará o abastecimento público das cidades de Itabirito, BH e RMBH.

Além da Mineradora Minar, em Itabirito, há outros quatro brutais projetos de mineração insistindo para cravar suas garras nas poucas montanhas que resistem: a) Em São Gonçalo do Bação estão insistindo em construir mais um Terminal de carregamento de minério de ferro, sinal de que, segundo o prefeito de Itabirito, “a mineradora Vale tem projetos para mais 150 anos de mineração na região”; b) Entre Aredes e  São Gonçalo do Bação está iniciando outro projeto de mineração na belíssima Serra do Lessa, que pretende explorar 110 milhões de metros cúbicos de minério por ano em uma montanha da localidade, por 40 anos, com cerca de 650 carretas por dia transitando, o que deixará uma cratera de 130 metros de profundidade; c) Tem também projeto minerário da Várzea do Lopes Leste, da Gerdau; d) E a empresa Monteminas Minérios, do projeto de mineração Água Brava ao lado da Serra do Lessa.  São Gonçalo do Bação está sendo circundado e sufocado por estas obras e minerações, sendo que se trata de um distrito munido de um vulnerável e rico conjunto arquitetônico, arqueológico e paisagístico composto por bens culturais variados, com clara vocação para o turismo cultural, artístico e ambiental de base comunitária.   

Portanto, em respeito às próximas gerações, faz-se necessário arquivar o PL 387 na ALMG, nunca mais requentá-lo e reduzir muito a mineração na região do Quadrilátero Aquífero e Ferrífero de BH e RMBH. Eis o caminho para a vida saudável!

 

24/10/2023.

Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam sobre o assunto tratado, acima.

1 - Aprovar PL 387/23 na ALMG p mineradora Minar minerar dentro da Estação Ecológica será absurdo brutal


2 - Alenice Baeta: Aula Magna! Necessidade de preservar a Estação Ecológica de AREDES. Repúdio ao PL 387


3 - Jeanine: Preservemos a Estação Ecológica de AREDES e o Monumento Natural da Serra da Moeda, JÁ!


4 - Dep. Bella: “PL 387/23 não pode ser aprovado na ALMG. Preservemos a Estação Ecológica de AREDES, MG



5 - Dep. Beatriz: "E a posição da SEMAD e do ZEMA sobre a Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG?"



6 - Edton: Minerar na Estação Ecológica de AREDES, Itabirito/MG, vai deixar Itabirito, BH, RMBH sem água



7 - Luiz, do MAM: Zema em conluio c mineradoras. Preservar Estação Ecológica de AREDES p garantir água..



8 - Capitães do mato insistem em continuar escravizando povos/ambiente, agora tb. c PL 387/23 na ALMG



9 - Thomás Toledo: Prefeito e vereadores de Itabiritos/MG, cúmplices da mineriodependência. Viva AREDES!



10 - Frei Gilvander e Dep. Bella pedem arquivamento do PL 387 na ALMG, que visa minerar em AREDES, MG



11 - Mineradora Minar quer devastar AREDES, nascedouro de Itabirito/MG, com PL 387/23 que visa minerar



12 - Visita Técnica a AREDES conclui q PL 387/23 deve ser arquivado. Estação Ecológica em Itabirito/MG



13 - Minar diz q minerar em AREDES afetará ruínas e fontes d’água. Dep. Bella e frei Gilvander: arquive!



14 - Não há como minerar na Estação Ecológica de AREDES sem devastar sítio histórico e acabar com águas



15 - Se calarmos, montanhas gritarão! Minar deixa 3 crateras, passivo ambiental e invade AREDES c PLACA


16 - Crateras deixadas pela Minar foram convertidas ambientalmente: Estação Ecológica AREDES/Itabirito/MG


17 - Visita Técnica de deputados/a à Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG. Arquive o PL 387/23!


18 - Peça de Teatro sobre História de AREDES, Itabirito/MG: Arquive PL 387/23 que visa minerar em AREDES!


19 - Trabalho arqueológico na Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG: Arquive o PL 387/23 na ALMG!


20 - Exposição AREDES na Estação Ecológica de AREDES, Itabirito/MG: Arquive o PL 387/23, que visa minerar



21 - No interior de uma das ruínas da Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG: Arquive o PL 387/23!




[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –     Facebook: Gilvander Moreira III

[2] Superintendência de Projetos Prioritários da Secretaria de Desenvolvimento Social e do Conselho de Política Ambiental do estado de Minas Gerais.

[3] Conselho de Política Ambiental do estado de Minas Gerais.

[4] Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do estado de Minas Gerais, responsável para avaliar os projetos de mineração.

[5] Instituto estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do estado de Minas Gerais.